Especialistas explicam como deve ser a conversa da família com a criança,
com o educador e com a escola.
Foto: Nana Sievers
O diálogo é a melhor saída quando seu filho tem problemas
com um professor
A criança chega em casa chateada, jogando a mochila no chão
e reclamando da escola. Você ouve que o professor não gosta do seu filho ou que
seu filho não gosta do professor. A reação natural de qualquer pai é ficar
alarmado. Mas é preciso tentar manter a calma. A forma como você lida com a
situação pode tornar as coisas muito melhores ou muito piores. Procurar uma
resolução pacífica garante o melhor resultado para a vida escolar do seu filho,
já que uma boa relação entre o aluno e o professor é um dos fatores que mais
influenciam na aprendizagem, segundo a psicóloga e pedagoga Neide Saisi, da
PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Tanto adultos
quanto adolescentes e crianças só aceitam que outra pessoa os ensine quando
existe uma relação de confiança. "A pessoa só aprende com aqueles a quem ela
delegou o direito de ensinar. E ela só dá esse direito a quem ela confia. É um
processo inconsciente", explica a pedagoga. E para estabelecer essa confiança,
primeiro é preciso criar um laço afetivo. A relação de afeto é fundamental
principalmente nos primeiros anos de escola. Se a convivência com o professor é
ruim, o aluno começa a rejeitar o processo de aprendizagem e se torna indócil e
desinteressado. Por extensão, ele deixa de gostar da escola. "Ela deixa de ser
um fato de desenvolvimento e aprendizado e passa ser um local de punição", diz
Saisi.
Seu filho tem dificuldades nos estudos, notas baixas ou
simplesmente tem mostrado o desejo de não ir para a escola? Vale a pena
perguntar como anda o relacionamento dele com os professores. Nem sempre
crianças e adolescentes deixam claro como é essa relação e os pais acabam não
percebendo que esse é um dos fatores do problema.
A boa notícia é que na
maioria das vezes é possível resolver o conflito por meio do diálogo. "Basta os
dois lados estarem abertos", diz a psicóloga Sueli Conte, autora do livro
"Bastidores de uma Escola" (Editora Gente) e atual diretora do Colégio
Renovação, em São Paulo. Segundo ela, o primeiro passo é descobrir qual a origem
da desavença, que pode ser resultado tanto do comportamento da criança ou até
mesmo do docente. "O professor é um ser humano, ele também erra", explica Neide
Saisi. Classes lotadas, estresse, problemas emocionais... Tudo isso pode levar o
educador a ter atitudes inadequadas. "Mas normalmente ele é bem intencionado e
está disposto a se corrigir se perceber se agiu de forma injusta", afirma Sueli
Conte.
As especialistas dão quinze dicas para você resolver o problema do
seu filho com o professor da melhor forma possível e garantir que a experiência
dele na escola seja prazerosa e educativa.
CONVERSANDO COM SEU FILHO
Para ler, clique nos itens abaixo:
- 1.
Não assuma imediatamente a posição negativa da criança
- Todo mundo pode se enganar ao julgar o caráter dos
outros. Crianças e adolescentes estão ainda mais sujeitos a se deixarem levar
pelas emoções. "Eles podem interpretar a atitude do professor de forma errada",
diz a psicóloga Sueli Conte. Antes de achar que o educador é um carrasco, ao
menos leve em conta essa possibilidade. Acalme seu filho e peça para ele
explicar melhor a situação.
- 2.
Ouça bem e fique atento aos detalhes
- Se seu filho fizer afirmações genéricas como "minha
professora é má", tente entender o que exatamente ele quer dizer com isso.
Descubra o maior número de detalhes sobre a situação que o levou a pensar desse
jeito. Será que a professora o humilhou na frente da classe ou apenas exigiu que
ele fizesse o exercício? Segundo a psicóloga Sueli Conte, autora do livro
"Bastidores de uma escola", é importante perguntar de maneira casual para que a
criança não seja levada a exagerar a situação. Assim você pode julgar com
clareza se a atitude foi realmente inadequada ou se a criança interpretou de
maneira incorreta uma exigência razoável.
- 3.
Encontre a origem do problema
- Muitas vezes o aluno cria rancor do professor
simplesmente porque não consegue entender o que ele está explicando. "Para
existir afeto entre os dois, o mestre precisa respeitar o nível de
desenvolvimento do aluno e sua personalidade", explica a psicopedagoga Neide
Saisi, da PUC-SP. Alunos tímidos, por exemplo, podem acabar recebendo menos
atenção e sentirem-se rejeitados. Tente entender qual a origem do conflito para
estar preparado quando for conversar com o professor e com a escola.
- 4.
Confirme se o desgosto é com o educador ou com a matéria
- Se o aluno tem alguma defasagem de ensino ou
dificuldade natural com uma disciplina específica, pode transferir o sentimento
negativo para quem ministra a matéria. "Se não gosta do assunto, a criança ou
adolescente também tende a ser mais indisciplinado, e consequentemente, mais
repreendido", diz a psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP. Nesse caso, explique a
importância de aprender aquela disciplina, tente ajudá-lo com as tarefas e
converse com a escola para que ele receba reforço. Aulas particulares também
podem ajudar.
- 5.
Avalie o comportamento do seu filho
- Pode ser que ele não seja indisciplinado em casa, mas
tenda a ultrapassar os limites na escola. Nem sempre as crianças se comportam da
mesma forma nos dois ambientes. "Se a criança tem atitudes rebeldes e
desafiadoras na sala de aula, a família tem de tentar resolver essa questão em
casa", diz a psicóloga Sueli Conte, autora do livro "Bastidores de uma Escola"
(Editora Gente). Mas não pergunte se ele fez algo de errado, isso pode parecer
uma acusação. Peça a ele para pensar em quais atitudes poderiam estar deixando o
professor bravo e ajude-o modificar esse comportamento.
- 6.
Procure causas externas
- Desavenças familiares, brigas com colegas e até
problemas de saúde podem levar as crianças e se tornarem agressivas na escola,
segundo a psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP. "É importante resolver fora da
sala de aula tudo o que possa levar o aluno a ‘descontar’ suas frustrações nesse
ambiente e acabar entrando em conflito com o professor", diz
ela.
CONVERSANDO COM O PROFESSOR
Para ler, clique nos itens abaixo:
- 1.
Não faça acusações
- A relação com a criança é um problema a ser resolvido,
não uma briga a ser ganha. Deixe claro para o professor que não está fazendo
acusações, apenas mostrando como seu filho se sente e tentando entender o
porquê. "A conversa com o professor pode ser muito rica se os pais estiverem
abertos ao diálogo", afirma Sueli Conte, psicóloga e diretora do Colégio
Renovação, em SP. "Mas se eles chegarem brigando, exaltados, podem piorar uma
situação que seria simples de resolver".
- 2.
Esteja disposto a ouvir mais do que falar
- A ideia da conversa é compreender o que está fazendo
seu filho sentir que o professor não gosta dele e vice-versa. "Muitas vezes o
professor nem sabe que existe um problema", afirma a psicopedagoga Neide Saisi,
da PUC-SP. Explique, diga que está preocupado com a situação e peça para o
docente contar seu ponto de vista. Assim vocês podem pensar em conjunto qual a
melhor solução para todos.
- 3.
Compartilhe informações que ajudem o professor a entender seu filho
- Se a criança acabou de perder alguém da família ou
teve uma experiência traumática na escola, é natural que deixe de fazer as
tarefas, fique triste etc. Explique que não quer justificar a falta de
disciplina. Segundo a psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP, passar para o
professor informações sobre o passado do seu filho ajuda o educador a entender a
atitude do aluno em relação ao aprendizado e adaptar a forma como se relaciona
com ele.
TRABALHANDO PARA
RESOLVER
Para ler, clique nos itens abaixo:
- 1.
Participe ativamente da educação do seu filho
- A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo
aconselha os pais a participar de reuniões de pais e mestres e outras
solicitadas pela escola, acompanhar as provas e tarefas dos filhos e verificar o
desempenho da criança através dos seus cadernos. "A presença dos pais na
educação escolar de seus filhos constitui requisito fundamental para a
aprendizagem do aluno", afirma a secretaria em nota. Essa é também a opinião da
psicóloga e diretora do Colégio Renovação, Sueli Conte. "Entrar sempre em
contato com a escola, não apenas quando há um problema, ajuda a criar confiança
tanto dos pais em relação à escola quanto da escola em relação aos pais. Assim
fica mais fácil resolver problemas quando eles aparecem", diz ela.
- 2.
Não critique o professor na frente do aluno
- Por mais crítico que o problema pareça, não fale mal
do docente para a criança ou na frente dela. É o que aconselha a psicóloga Sueli
Conte, autora do livro "Bastidores de uma Escola" (Editora Gente). Segundo ela,
isso só vai aumentar a raiva do seu filho, torná-lo menos aberto a trabalhar
para que o relacionamento melhore e reforçar a ideia de que o professor é um
"vilão". Isso pode se estender para uma visão negativa de professores em geral e
comprometer sua aprendizagem para o resto da vida escolar.
- 3.
Não prometa uma solução instantânea
- Diga para seu filho que se importa com o que está
acontecendo e vai fazer de tudo para que a situação melhore. Mas explique que
você não vai simplesmente ir até a escola e acabar com o problema. "O aluno não
pode achar que é só o pai aparecer, brigar com a escola e vai ficar tudo bem.
Nessas situações, é preciso a colaboração de todos: da família, da escola, do
professor e da criança também", diz Sueli Conte. Por isso os pais devem mostrar
que é preciso trabalhar em conjunto e que pode levar algum tempo até que as
coisas se acertem.
- 4.
Explique para seu filho a importância de aprender a matéria mesmo não gostando
do professor
- Ajude a criança ou o adolescente a entender que todas
as disciplinas escolares são importantes para o seu desenvolvimento. Elas vão
ser úteis em algum momento e é essencial que ele aprenda. Durante a vida vai
haver diversas situações nas quais ele terá que trabalhar com alguém por quem
não sente simpatia. "Às vezes o problema do aluno pelo professor é só uma
questão de personalidade, de empatia. Principalmente entre alunos mais velhos",
explica Sueli Conte, psicóloga e autora do livro "Bastidores de uma Escola"
(Editora Gente). Se o aluno não for muito pequeno e se o conflito não for grave,
o ano em que estudar com aquele professor pode ser uma oportunidade para seu
filho aprender a lidar com diferenças de personalidade.
- 5.
Forme um grupo com outros pais
- Procure os pais de outros alunos para verificar se o
problema se repete com eles. "Se várias pessoas estão reclamando do mesmo
professor, então não é um problema pontual", afirma a psicopedagoga Neide Saisi.
Se vários pais já tentaram resolver a situação sem sucesso, pode ser o caso de
vocês formarem um grupo e entrarem em contato com a escola em conjunto.
- 6.
Procure a escola e outras instâncias de ensino
- Se você constatar que o professor realmente está
agindo de maneira inadequada, procure o coordenador pedagógico ou o diretor da
escola. No Estado de São Paulo, a rede pública também conta com o
Professor-Mediador Escolar e Comunitário que auxilia nesse tipo de caso. "Às
vezes o problema é realmente o professor. Acontece. Nesse caso a escola tem que
tomar providências", afirma a psicopedagoga Neide Saisi. Se mesmo assim o
problema persistir, e você não puder ou não conseguir mudar se filho de escola,
a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo informa que é possível pedir a
intervenção de instâncias superiores de ensino por meio de um processo formal.
Procure a Secretaria de Educação do seu estado para saber quais são os
procedimentos na sua região do país.
Por A.A.Brasil